uma visão terapêutica do nosso modo de vida influenciado pela mídia
Quando, em 1994, um professor apresentou o termo “globalização” em sala de aula junto ao advento da internet no Brasil, achei um marco histórico. Passados 25 anos, posso ser chamada para uma palestra sobre a pré-história do mundo moderno. Não apenas a informação está na velocidade da luz (299.792.458 m/s), nossos pensamentos e ações também. Mudamos nossas certezas, nossas opiniões, nossas paixões e nosso cabelo como se estivéssemos mudando de linha no metrô, um trem ao lado do outro.
Houve a fase da tapioca, do açaí, das pequenas porções e do leite de soja. Hoje tudo se resolve com ovo, frango, batata doce – muito simples. A somatória de treino mais ovo é igual a corpo definido. É assim e pronto. A mídia vende, as pessoas compram, o mundo é feliz e as pobres galinhas, esgotadas. Haja produção.
As feiras livres dominicais se dividem entre os que vão comprar a abobrinha cortada como macarrão e os que vão para o pastel: uma linha tênue entre o céu e o inferno. O equilíbrio humano está fora de cogitação. Por sua vez, redes sociais pregam verdades e mentiras, lançam moda, lançam desavenças e lançam piadas; em minutos uma postagem é replicada por milhares, comentada por multidões e está feita a polêmica. Incrível um país em crise ter tanto tempo para oba-oba. Artistas e emergentes agradecem. Terapeutas choram. O celular com seus aplicativos substitui o ringue – o “lavar roupa suja” está “online”.
Tudo novo, muitos achismos, muita pegada e pouco conteúdo. A informação tão rápida ofuscou a opinião própria, os gostos pessoais, a conquista duradoura. Viramos uma massa conduzida pela mídia – meio robôs – e deixamos de lado nossa paixão por coleções e por objetos de estimação. CDs viraram decoração e vinil, artigo vintage. Aliás, quando vejo alguém na contramão da modernidade, sinto empatia momentânea; paro em frente ao cantor na Praça da Liberdade só para aprecia-lo – audacioso ele, parece pouco preocupado com a vida da atriz bonitinha.
Como terapeuta, prego a globalização interna – outros tempos! Já pensou a gente pensante, livre de preconceitos, vivendo uma sexualidade sadia, trabalhando com o que nos dá prazer e podendo comer um queijo quente de vez em quando? Uau! Seríamos muito pegáveis. Faríamos caminhadas ouvindo músicas do nosso gosto, iríamos à academia por saúde e não por status, comeríamos por necessidade, prazer e dentro dos nossos gostos, respeitando as vontades alheias. Acessaríamos redes sociais como diversão e não como dependência. Dezenove anos depois, penso que poderíamos retroceder um pouquinho – na generosidade, no amor ao próximo, no amor a si mesmo, na autenticidade... vai que vira um “meme”. Podemos ficar famosinhos.