Parafraseando Milan Kundera, decorro sobre as contradições do nosso dia a dia, que andam em desarmonia com o que somos e o que mostramos ser.
Dezoito horas, horário bom para treinos – vejo muitas pessoas uniformizadas para academia, muito orgulho de quem se cuida. Daí chega a hora da escada e temos duas opções: a rolante e a normal. E a fila da rolante é extensa e o acotovelamento constante e, na segunda opção, alguns gatos pingados arriscam suas panturrilhas nos degraus intermináveis de certas estações de metrô. E os uniformizados estão na opção mais fácil, ok. Mas tu não estás indo à academia para exercício físico? e sobe escada rolante?
Oitenta por cento que sentam à frente de um terapeuta reclamam da falta de comprometimento amoroso, das relações líquidas, do “pra sempre” que dura uma semana. Mas os aplicativos de encontros românticos descartáveis aumentam cada dia mais – são opções preferenciais de quem procura uma cara metade. Um love por dia para quem deseja apenas um date (um encontro, apenas). Podem surgir romances, com certeza. Mas são raros, visto a rotatividade do app. Novamente a incongruência se faz presente. Relacionamentos se constroem com calma, com empatia e com muita leveza.
Um seguidor de Iskra Lawrence, modelo plus size (perca dois minutos e procure-a no Google: se ela for tamanho gê, não sei onde estou), chamou-a ofensivamente de “vaca gorda” que sustenta redes de fast-food e vem posar de modelo. A loira gostosa respondeu que come de tudo e com prazer e, sabe seus limites, uma vez que não nasceu PP. Apenas pergunto a esse seguidor: você nunca comeu um “mac” na vida para se sentir no direito de ofender os outros? Muito fácil julgar os outros. Conheci uma modelo recentemente que relatou suas overdoses de foods seguidas pelas crises de bulimia. Quem engana quem nessa vida?
E sem paciência para discorrer sobre política, cada um no seu quadrado. Apenas penso que cada vez que a Paulista é fechada para manifestos alguém deixou de olhar as pessoas que estão vasculhando sacos de lixo à procura de restos de alimentos. Deixou de olhar para tantas crianças na rua, pedindo esmolas e crescendo à margem da sociedade. Mas nos sentimos muito potentes vestindo nossas crenças e gritando nas ruas - acreditamos que cumprimos nosso dever como cidadãos. Cidadãos pode até ser, mas seres humanos estamos anos-luz de nos tornarmos. É trevoso deixar nossa incoerência de lado, expor nossa essência requer muitas manifestações internas.
Somos incoerentes quando olhamos, desejamos, presenteamos outra mulher sem ser a nossa, não a valorizando. E o mesmo vale para nossos homens. Somos incoerentes quando pagamos muito por produtos importados e não valorizamos as feirinhas do nosso bairro. Quando conhecemos as músicas dos grandes ícones e debochamos do senhorzinho com sua gaita tentando uns tostões, dignamente.
Finalizo com um trecho do livro ícone de Milan Kundera, autor tcheco – A insustentável leveza do ser. “’Tem de ser assim’, Tomas repetia para si mesmo, mas logo começou a ter dúvidas: teria mesmo de ser? ” tem mesmo de ser assim? Já pensou como poderia ser diferente? Ouse pensar, desafie suas crenças, seus conceitos e, principalmente, suas ações. Saia do piloto automático, questione suas atitudes, entre em contato com sua essência e a incongruência do que pensa e faz diminuirá. Deixe sua essência transparecer. Suba escadas, se permita amar e ser amado, de verdade. Ajude os outros, não se prenda por questões egóicas. Seja autêntico e seja feliz.
Silvia Delforno, terapeuta corporal com abordagem tântrica.
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