Publicado em 28/08/2020
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Você tem a sensação de estar pensando em muitas coisas ao mesmo tempo, se preocupar com questões futuras, às vezes com um sentimento estranho de que algo ruim está para acontecer? Calma! Não precisa desesperar. Nesse texto vamos pensar no que pode estar causando essa ansiedade e possíveis formas de enfrentamento.
A Organização Mundial da Saúde aponta que cerca de 30% da população mundial sofre com a ansiedade de alguma maneira. Boa parte disso ocorre por questões contemporâneas, como uma super aceleração de tarefas, prazos menores, avanço da tecnologia e intensificação da atenção dividida. Somos cobrados o tempo todo para desempenharmos nossos papeis com maior excelência: ser um(a) ótimo(a) profissional, a mãe perfeita, o pai responsável, um bom aluno, um(a) cuidadoso(a) esposo(a), entre muitos outros.
No âmbito pessoal, há muitos discursos que buscam ensinar o que devemos fazer para cuidar de tudo com excelência. Há infinitos tutoriais, canais e redes sociais que ensinam como educar os filhos da melhor maneira, como ter um casamento de sucesso, como organizar as rotinas de trabalhos domésticos, como se vestir adequadamente, como se alimentar de forma saudável, os melhores exercícios físicos, como manter a saúde financeira, e isso não para, a lista é infinita! Isso parece ser ainda mais intensificado no âmbito profissional, já que vivemos em tempos que tudo deve ser para ontem, que devemos progredir no menor tempo possível, e que na ânsia de alcançarmos o sucesso, acabamos pouco nos importando com o que vivemos aqui e agora.
Esse excesso de tarefas e cobranças encontradas em muitos aspectos de nosso cotidiano, produz fatores condicionantes para a ansiedade, ou seja, é fácil que se crie um quadro mental acelerado quando temos um modo de vida demasiadamente acelerado. Não deve ser à toa que muitos pensadores chegam a apontar que este é o mal do século.
Bom, com essa reflexão, fica um pouco mais fácil compreender que essa ansiedade que você vive não é só sua, ou seja, produzimos esse modo de vida coletivamente, ainda que algumas pessoas a sintam com mais ou menos intensidade. Mas afinal, quando essa ansiedade passa a ser um problema?
Pela perspectiva psiquiatra, se deve diferenciar a ansiedade em si dos transtornos de ansiedade. A ansiedade é um sentimento como qualquer outro, que necessariamente passa pela gente ao longo da vida. Já o transtorno de ansiedade indica um quadro um pouco mais perigoso. Ele é caracterizado principalmente por preocupação excessiva ou expectativa apreensiva por longos períodos de tempo, passando a interferir nas atividades do dia a dia.
Há ainda diferentes tipos de ansiedade. A ansiedade generalizada ocorre quando há preocupações sobre tudo na vida da pessoa por pelo menos 4 meses seguidos. A ansiedade social é caracterizada por temor às interações humanas. A crise de ansiedade ocorre quando os fenômenos físicos vêm à tona (sudorese, taquicardia, boca seca, etc). E finalmente os transtornos de ansiedade estão relacionados às síndromes, fobias, obsessões e distúrbios. Os principais sintomas desse quadro são dificuldade de concentração, fadiga, irritabilidade, problemas com sono, inquietação, tensão muscular, medos irracionais, excesso de preocupação e perfeccionismo.
Se a gente relacionar esses quadros aos aspectos sociais discutidos no início do texto, vamos verificar que produzimos uma forma de experimentar o mundo coletivamente, mas que se expressa de uma forma única e singular em cada indivíduo que sente a ansiedade.
Podemos dizer então que a ansiedade passa a ser um problema quando o indivíduo se cristaliza e estagna nessa única forma acelerada e excessiva de experimentar o mundo, e coletivamente, quando a sociedade deixa de viver o momento presente e refletir sobre o próprio funcionamento para simplesmente cumprir metas e padrões impostos pela lógica do mercado.
Dessa forma, o combate à ansiedade precisa ser individual e coletivo ao mesmo tempo, pois uma dimensão só existe com a outra. Vou deixar aqui algumas possibilidades de enfrentamento, que devem continuar em constante diálogo e co construção para caminhos que nos façam sentido:
- Dar menos audiência, seguir menos perfis que dizem o que devemos fazer para alcançar a perfeição, e criar plataformas e espaços de diálogo para tratarmos nossa falha com acolhimento também.
- Meditação e massagem são práticas que ajudam a desacelerar.
- Luta por políticas públicas em que haja espaço para cuidado da saúde mental, bem como garantia dos direitos sociais trabalhistas.
- Terapia (individual ou em grupo) são excelentes espaços para ressignificação e transformação da nossa vida objetiva e subjetiva.
- Hobbies são essenciais, por serem espaços que nos dão prazer e causam o relaxamento em uma atividades produtivas.
E aí? Como você vai começar a combater a ansiedade?
Cristina Gonçalves de Abrantes
Psicóloga CRP 06/135259 E-mail: cristinadeabrantes@gmail.com
WhatsApp: (11)96395-4679