É tempo de renascer!
Carolina acordou numa manhã cinzenta, era quase inverno e o Sol se escondia. Estava frio. Era final de dezembro. Carolina, de férias do trabalho, resolveu ficar na cama, não precisava levantar correndo, já fizera isso o ano todo. Era um momento perfeito para pensar.
Os pensamentos corriam soltos pela mente e Carolina lembrou-se dos antigos natais. Seus pais a criaram na igreja católica, com árvore enfeitada e presépio. Sua avó fazia um bolinho banhado no mel, receita italiana herdada da sua família. Seu avô colhia pinha e Carolina decorava com brilho e laço. O chester era obrigatório na ceia, assim como a sobremesa de chocolate. Carolina se lembrou dos vestidos novos comprados especialmente para a noite de Natal, recompensa de todo ano por ajudar a mãe na limpeza da casa, a famosa limpeza de Natal.
Por um momento, Carolina fixou seu olhar no teto. Chegara naquele país fazia dois meses. O sonho de sua carreira estava se concretizando - ela fora promovida e estava vivendo no país sede da multinacional que trabalhava. Carolina era uma advogada obstinada pelo seu trabalho. Sua vida acadêmica fora a melhor que seus pais puderam lhe oferecer e ela aproveitou as chances da vida, seu currículo era invejável. Naquele Natal ela iria ficar sozinha, por escolha própria. Não voltaria para seu país e para seu lar. Voltaria para si.
Onde estava a menina da noite de Natal que aguardava ansiosa os presentes? Ela estava ausente. Havia deixado as memórias de lado para se dedicar a projetos grandiosos, reuniões intermináveis, noites mal dormidas, relacionamentos casuais, incontáveis garrafas de vinho. Havia alcançado poder e dinheiro, mas sentia-se sozinha. Rodeada por pessoas que a vida fora lhe apresentando e ocultando, na mesma proporção. Sentia-se vazia de sentimentos, fria. Pensou envergonhada nas vezes que a mãe ligou e ela não atendeu, por falta de vontade mesmo. As incontáveis mensagens não lidas e não respondidas. Apenas o que era do seu interesse era visualizado. Carolina havia se transformado numa stalker invejosa e frustrada. A vida do outro alimentava seu vazio existencial.
Não era sobre bens materiais, ela vivia bem. Não era sobre beleza, era também sobre beleza. Era sobre ser uma boa pessoa. Era sobre sorrisos sinceros, relacionamentos honestos e amizades verdadeiras. Era sobre valores. Carolina sentia-se perdida no meio de suas emoções. Quando criança brincava de casinha e, inconscientemente, sonhava com sua família. Mas entre os tombos amorosos da vida, perdeu a esperança de repetir o amor de seus pais e resolveu se distanciar, mergulhando no trabalho.
Agora era quase Natal e as lembranças começaram a surgir e ela não sabia como lidar com tudo aquilo.
Carolina, eis algumas palavras. O sucesso profissional é fruto do seu estudo. O dinheiro é a recompensa pelo estudo e pelo trabalho. A vida é feita de escolhas, e você é uma mulher sábia. Porém, é preciso reconhecer-se pequena para enxergar o verdadeiro valor do Natal: é tempo de renascer. É tempo de renovar as esperanças na vida. É tempo de doar o que lhe sobra. É tempo de pedir desculpas a quem você ofendeu. É tempo de olhar além do seu mundo e perceber que existem muitos mundos melhores, piores ou iguais aos seus e está tudo bem. Natal é sobre ser e não ter.
Carolina, levanta. Faz a mala e vai para o aeroporto. É tempo de se reconciliar com seu passado.
Seus avós já se foram, mas você ainda se lembra do ponto do bolinho - faça você mesma. Seus pais sentem sua falta, aproveite enquanto eles estão disponíveis para você. Você não ganhará a Barbie, mas ganhará carinho de verdade. Leve um bom vinho para brindar com seu pai, você chegou além do que ele imaginou que você alcançaria.
Carolina, a vida é breve. Viva-a com leveza e ternura. Chega de competir com Deus, Carolina.
Tenha um Feliz Natal.
Redação:
Silvia Delforno, psicanalista.
"Ajudando você a viver de forma mais leve, com mais plenitude e realizações".
Sessões on-line e presencial.
Informações: whatsapp - 11 971182440.