Publicado em 30/03/2022
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Assunto indigesto e contraditório, a infidelidade surge na terapia vez em sempre. Em paralelo, cada vez mais os recursos tecnológicos permeiam o cotidiano das pessoas. Afinal, infidelidade e internet se encontram pelo caminho da vida?
Houve um tempo que traição era sinônimo de fazer sexo fora da relação, ponto. Tanto num namoro quanto num casamento, a infidelidade era valida pela "escapada" de um dos dois envolvidos na relação. O tempo passou e o advento da internet conectou o mundo: relações antigas se refizeram, famílias se reaproximaram, amigas e amigos virtuais nascem todo dia e os crescentes mimimis substituíram as brigas. Hoje todo mundo tem sua opinião sobre todos os assuntos e todo mundo quer valer seus direitos. Inclusive o de flertar online, descaradamente.
A paquera começa com likes and hearts (gostei e amei, na linguagem das redes sociais). O beijo é selado pela troca de celular. A mão boba cedeu lugar aos nudes. O telefone não identificado perdeu seu posto para perfis fakes, geralmente usados para fornicação e bisbilhotagem. A internet tornou a vida sexual acessível, disponível e anônima - pensamento do pesquisador Al Cooper.
Um paciente me conta sobre sua rotina de beijar a esposa, sair de casa, passar na padaria tomar seu café antes do trabalho e aproveitar o tempo para enviar um bom dia para, pelo menos, cinco "contatinhos". Pergunto se ele é muito simpático ou se há outra intenção por trás da ação. Ele me conta que nem todas respondem, porém as respostas o deixa feliz e pode render assuntos mais quentes até o final do expediente. Depois é hora de voltar para casa e não mexer mais no celular. Insisto se os "contatinhos" não seriam uma forma de "acariciar" seu ego e fazê-lo se sentir querido, ele responde que sim. Na sequência pergunto se a infidelidade contribui para seu relacionamento e ele se espanta, afinal não há infidelidade nenhuma em ter contatos com mulheres, sejam casadas, solteiras ou carentes. Traição é sexo ao vivo. O resto é apenas diversão.
Tive um caso inusitado de uma paciente que conheceu, se encantou, marcou, transou e foi bloqueada no mesmo dia. Talvez a ação remeta ao pensamento do filósofo Zygmunt Bauman: a era das relações líquidas.
A nova definição da infidelidade.
Amiga e amigo. "Contatinho". Caso, "PA", dentre outros. A infidelidade virtual ganha campo sem fronteira; idioma e fuso-horário não são mais problemas. Há quem passe a noite nas diversões virtuais. Aplicativos, chats, câmera ao vivo, Facebook, Instagram, Whatsapp estão entre os meios mais procurados para achar e ser achado. Solteiros, bem-vindos a vida louca. Comprometidos, cuidado. A outra pessoa pode nem imaginar a vida movimentada que você tem enquanto ela cuida da vida dela e da sua também. Muitas relações saudáveis se desestabilizam por aventuras temporárias.
A infidelidade ganha um novo olhar e a pergunta que fica é: você está preparado para a tecnologia que invade as relações sem pedir licença? Seu celular é alvo de espionagem que você protege a todo custo para que a companheira ou companheiro não o rastreie? E a pergunta mais difícil de responder: você anda dialogando com seu ou sua parceira e trazendo às claras os reais motivos que levam você a procurar atenção fora da relação?
A tecnologia não cessará, assim como os hormônios. Ao contrário. Se necessário, procure um terapeuta para quem você pode confessar todas as suas gostosuras e travessuras, e que orientará você para uma vida plena e saudável.
Redação: Silvia Delforno, terapeuta corporal com abordagem tântrica. Whatsapp 11 97118-2440
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