Publicado em 21/03/2023
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Criança interior, criança ferida
Esse artigo pode levar você a reconhecer sua criança ferida.
Minha mãe não aceitou minha concepção, já estava com idade avançada quando me concebeu e tinha vergonha das pessoas a julgarem pela gestação tardia. Minhas irmãs relatam que ela não saiu de casa durante a gravidez e quando eu nasci não contou para muitas pessoas. Mas sempre me tratou bem e me mimou muito. Como resultado, cresci uma mulher tímida, insegura e com dificuldades de relacionamento. Hoje consigo escrever minha vida como exemplo, mas foram muitas sessões de terapias e muito choro até chegar aqui.
A infância é marco zero da psique. A maneira como nossos pais nos criaram, como foi nossa concepção e nosso nascimento influenciou toda nossa forma de encarar a vida e nossas angústias. Fato que meus pais e os pais de todo mundo fizeram o que puderam para o momento, o que sabiam e o que tinham para oferecer, também com suas dores.
Como cada um tem a sua criança interior, a questão se estende por gerações.
Comemos exageradamente muitas vezes, porque passamos “vontades” quando pequenos. Malhamos e cuidamos do nosso físico como narcisistas porque fomos abandonados e mal quistos quando pequenos, descontamos sendo lindos e queridos, com um grande buraco no meio do peito. Usamos o dinheiro como ferramenta de troca quando, na infância, tínhamos “tudo”, mas nos faltava atenção e carinho, pilares de uma infância bem sucedida.
Se passamos por abusos, traumas, rejeições, mágoas, violência e demais, precisamos nos conhecer, reconhecer essas angústias que trazemos do passado, entendê-las e cuidar delas com amor; caso contrário nossa criança interior seguirá gritando por nossa vida toda – ela vive dentro de nós e se manifesta a todo momento.
Segue uma sequência de exercícios muito simples para você entrar em conexão com sua criança. Se você tem lembranças tristes da sua infância que persistem na sua vida adulta, faça os exercícios. Será muito positivo.
Lembra a pelúcia que você tinha na infância e que era seu grande amigo? Um ursinho ou mesmo seu paninho. Tenha algo para confidenciar suas dores. Converse como as crianças conversam com seus brinquedos.
Pegue uma almofada ou travesseiro, coloque em sua frente, sinta a presença da sua criança, memorizando como era quando pequeno. Abrace com muito carinho, pergunte com “ela” está e o que você pode fazer para fazê-la feliz. Quando fiz esse exercício, senti minha pequenina me perguntando como assim eu não tinha mais um gato? Tive gato a minha infância inteira. Poucos dias depois, adotei uma gatinha. Ou melhor, ganhei de presente da minha terapeuta.
Faça algumas perguntas ao seu eu-pequeno: do que você gosta? Do que não gosta? Do que tem você tem medo? Por quê? Como se sente? Do que precisa para se sentir melhor? Sente alguma dor? Como eu posso te ajudar?
Pode parecer desnecessário, mas não é. É muito forte e libertador entender seus desejos e necessidades infantis, você perceberá que eles te acompanham por toda vida.
Vá a parques, piscina, tome sorvete, assista filmes infantis. Dê risada de coisas simples. Leve sua criança para passear. Vá ao mercado e compre o que goste, sem exageros. Faça-a feliz.
Lembre-se do seu quarto. Você tinha um quarto? Tinha uma cama quentinha? Tinha alguns detalhes que você se lembra até hoje? Recordar é viver. São pequenos detalhes que fazem muita diferença no entendimento de algumas questões da sua vida.
Aconteceu algo mais traumático na sua infância? Peça que conte pra você porque sofre. Entenda-a e respeite-a. Dê muito amor a si mesmo.
Comece com os exercícios propostos. Conecte-se com a criança que você foi um dia. Não more no passado, apenas visite-o e, com esforço, irá acalmar suas dores infantis e não mais usá-las como escudo na sua vida adulta.
O artigo não substitui uma sessão terapêutica. Sempre procure se conhecer. O autoconhecimento liberta.
Redação:
Silvia Delforno, psicanalista.
"Ajudando você a viver de forma mais leve, com mais plenitude e realizações".
Sessões on-line e presencial.
Informações: whatsapp - 11 971182440.