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Desde o início da pandemia o que me chamou muito a atenção foi a notícia de o papel higiênico comandar a lista de produtos mais procurados e que poderia entrar em falta no mercado. Minha mente agitada cogitou um pensamento – “Preciso de papel higiênico, porque comerei. Logo, eu compro papel higiênico e deixo a comida. Afinal, melhor estar limpa do que alimentada”.
A discordância vem porque para a higiene temos a água, mas para o alimento só temos o alimento. Então partindo desse raciocínio, eu acreditava que a lista dos mais procurados para compras “pré-pandemia” seria a cesta básica: arroz, feijão, macarrão, bolacha, açúcar, trigo, “misturas”. E as outras cestas básicas, para outros paladares: cerveja, refrigerante, carnes, petiscos. Ou ainda para paladares mais apurados: vinho, queijos, embutidos, frutas exóticas e chocolates. Afinal, estamos vendo várias definições para quarentena: férias, regime de escravidão doméstica, lua-de-mel estendida, boteco em casa com direito a live sertaneja, "Home Office infinita", aumento da violência familiar, e consciência e medo do coronavírus. O mundo “guardado” em casa está se virando como pode, e está tudo certo.
Voltando a saga do papel higiênico, mal sabem as pessoas que ele também veio da China, assim como o vírus, no ano de 875. Há relato também da invenção ser americana, quase mil anos depois. Nada documentado. Mas não faz mal, o progresso conta por si: a nobreza usava seda, enquanto o povo usava folhas de palha e sabugo de milho. Também conta-se o uso de folhas hortelã e água (enfim!).
Conta-se que um acadêmico chinês escreveu sobre o papel higiênico: “papéis nos quais existem citações ou comentários dos Cinco Clássicos, ou que contenham nomes de sábios, não ouso utilizar no vaso sanitário”. Hilária essa ousadia! Fico imaginando no Brasil as fotos de quais personagens políticos usaríamos para a limpeza.
Relata-se também um árabe, que visitando a China, declarou que os chineses eram descuidados com a higiene íntima. Limpavam-se com papel ao invés de se lavarem. Parente meu esse árabe.
Saindo dos contos e voltando para a dura realidade de muitos que vivem na linha da miséria, sabemos que substituem o papel higiênico por balde de água comunitário, folhas de jornal, folhas de plantas ou o que puder ser utilizado. O saneamento básico é inexistente em muitas regiões no Brasil e no mundo e, a higiene pessoal é luxo para muitos, confirmando os altos índices de doenças transmitidas pela falta de cuidados básicos.
Com certeza, a compra excessiva do produto, que chegou a ser controlado em alguns mercados, nasceu de uma pessoa que colocou cinco fardos no seu carrinho e, quem estava próximo teve seu cérebro afetado com a imagem: faltará papel higiênico, preciso estocá-lo. Logo, uma terceira pessoa pensou o mesmo e postou no grupo da família, que espalhou para a galera em geral, gerando a manchete. E assim nascem muitas fake news: nosso cérebro reproduz a neurose alheia e, como estamos assustados com a realidade pandêmica, compramos a ideia do outro e assim, sucessivamente.
Na falta de papel higiênico, use a água – um banho após o uso sanitário é muito mais higiênico e cômodo. Se houver necessidade de estoque para evitar o trânsito fora de casa, que seja de alimentos e remédios de primeira necessidade.
Estoque, principalmente, bom-senso e solidariedade. O mundo está precisando.
Redação:
Silvia Delforno, terapeuta corporal com abordagem tântrica.