Publicado em 04/12/2023
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INTERlude, de Luísa Sonza. A necessidade de ser amada
O artigo relata o perigo de perder a própria essência quando, numa atitude de desespero, a gente se encolhe para caber na casinha dos outros e chamar isso de amor
"Oi. Eu queria dizer que é inadmissível que a gente passe a vida toda procurando por algo que no final vai doer. Mas eu sei que o que dói não é o amor, sabe... as pessoas que não sabem amar.
Elas te obrigam a ser pequena, elas te obrigam a se desfazer do que você é, das suas peças.
A se desencaixar de você mesma para se encaixar em um lugar que você nem pertence. E você tem tanta certeza que um dia o amor dos seus sonhos vai finalmente florescer que nem se importa de se quebrar um pouquinho.
Se é tudo em nome do amor, por que mesmo assim você não se sente amada?"
Luísa Sonza. INTERlude
Luísa, talvez eu saiba o motivo de, no final, você não ser amada. Não, eu não sou vidente, eu sou como você. E como nós existem muitas e o real motivo não está no outro, e sim em nós mesmas.
Sobra euforia, falta consistência. Sobra carência, falta autoconhecimento. Sobra desejo, falta respeito. Sobra expectativa, falta amor-próprio.
Na esperança de ser aceita, a gente passa a comer jiló. A gente passa a noite assistindo luta. A gente decora moda sertaneja pra fingir estar na mesma vibe que o outro.
A gente se afasta dos poucos amigos que temos e a gente deixa a família de lado. A gente permite que o outro faça o que quiser com nosso corpo, a espreita de receber amor. E respeito, e carinho, e atenção, e aceitação.
No final, porque o final sempre chega, a gente junta os cacos e entrega-os a Deus, ao analista e ao cirurgião plástico. Ressurgimos das cinzas e temos a certeza que agora estamos curadas, até chegar o próximo e reiniciar o estica e puxa pra gente caber na casinha alheia, de novo. Viramos sem-teto mendigando atenção.
Nossa identidade não passa de um documento obrigatório, pois nossa identidade pessoal está vagando por aí, levando consigo nossos sonhos profissionais, nossas viagens, nossos gostos e desejos.
Além da nossa sanidade e equilíbrio mental, sim, a gente passa por louca. Tudo em nome dos outros, que dizem nos amar. Que dizem nos aceitar.
Sim, Luísa. É inadmissível que a gente tenha tão pouca estima por nós mesmas a ponto de apenas encontrar inspiração no outro, sufocando-o. Sim, Luísa, nossa criança ferida implora por colo.
Ela está perdida no circo, por isso sente-se impotente em cada término de relação. Cada vez que nos expulsam da casinha deles, pois geralmente outra inquilina aguarda a gente desocupar espaço, a gente "se morre" um pouco, e assim nos despedaçamos a cada tentativa do outro nos preencher.
Sempre haverá um circo. Sempre haverá um palhaço. Sempre haverá uma cinderela. E eles se cruzarão pela vida enquanto não trouxerem a consciência a necessidade de um tratamento profundo.
Prazer, Luísa. Nos vemos na terapia de grupo.
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