O Yoga na Massagem Thai – parte II
A Mandala de Movimento e O Toque Consciente
As origens dos bloqueios em nosso sistema de energia estão na forma como nos relacionamos com o mundo física, mental e espiritualmente. De acordo com a teoria dos cinco corpos, chegamos à existência do sutil ao denso - do corpo espiritual através dos corpos mental e energético à nossa forma física mais grosseira. No yoga e na medicina ayurvédica, acredita-se que a doença se origina nos reinos mais sutis da mente antes de se desenvolver através dos corpos para uma manifestação física mais grosseira; então, no nível mais sutil, a fonte provável de alguma doença é a desarmonia espiritual, ou a desconexão existente entre os distintos campos e níveis da existência.
Por exemplo, uma dor nas costas pode ser abordada como uma tendência para uma contração física e energética em direção ao centro do corpo e da coluna vertebral. Este é o principal sintoma físico de um provável desalinhamento em vários níveis da vida e, tipicamente, se manifesta como contração e ombros apertados, olhos e nuca tensos, quadris sem movimento ou muito rígidos, padrões de respiração pobres e uma digestão ineficiente. Esses sintomas físicos têm suas contrapartidas energéticas mais sutis, que podem ser sentidos como um movimento ou fluxo energético de fora para dentro do corpo.
Não é por acaso que durante uma sessão de Massagem Thai cada parte do corpo é tocada e movimentada de várias formas por tempo suficiente para que os bloqueios energéticos, também chamados de nós nos textos tradicionais do Yoga, sejam diluídos e o fluxo natural para o sistema nervoso central e a coluna vertebral, anatomicamente falando, seja restabelecido e equilibrado.
No trabalho energético através do Yoga, a medida que o praticante desbloqueia a energia através dos asanas, mudras, bandas e pranayamas, vai adquirindo consciência da relação entre o corpo físico e o que as partes do corpo representam em sua caminhada espiritual, sua evolução para uma consciência Una. Sua percepção também muda para uma interrelação mais ampla com o mundo ao seu redor, menos tensa e no sentido interior para exterior.
Da mesma forma, o toque meditativo e consciente do terapeuta thai caminha pelo corpo do outro como se fosse abrindo portas e janelas. Iniciando nos pés, passa pelas pernas e quadris, vai pelo tronco, subindo em direção aos braços e mãos, muito lentamente até encontrar seu fluxo principal, na coluna vertebral, no coração e sai pelo topo da cabeça.
Sua atenção percorre da periferia ao centro do corpo, num vai e volta, como um exercício ou prática meditativa, buscando seu foco e ponto de equilíbrio. E nesta mandala de movimento o sentido é contra a força da gravidade, subindo da Terra para o Céu, em busca da leveza e da força do espírito sobre a matéria.
Ao final, geralmente, na postura savasana (deitado e totalmente relaxado) ou sentado na postura do lotus, a pessoa que recebe a massagem tem alguns momentos para sentir e tomar consciência das correntes mais sutis que sustentam a vida em seu próprio corpo. Começa a compreender e desejar experimentar estados elevados de consciência e a relacionar estes estados com sua saúde e bem-estar físico e mental.
Um Caminho para a Unidade e Autoconsciência
O aprendizado e a prática da Massagem Thai constitui em si um caminho de desenvolvimento pessoal e crescimento interior, independente de cultura, religião, gênero ou classe social.
Para se tornar um bom terapeuta thai, ou praticante de Massagem Thai, você deve trabalhar com sua própria consciência e seu equilíbrio físico, mental e espiritual, da mesma forma que deseja aplicar seu conhecimento teórico e prático em benefício ou a serviço de outras pessoas.
É preciso desenvolver por si mesmo esta sensibilidade para um nível mais sutil e intuitivo, amadurecer emocionalmente e intelectualmente em relação as suas questões fundamentais de vida, sua saúde, seu modo de sobrevivência, seus relacionamentos com a família, parceiros, amigos e a sociedade como um todo.
Pela prática, vamos acessando estados de calma interior, nos tornando mais atentos às nossas limitações e padrões físicos, emocionais, mentais; dissolvemos os nós energéticos; e, finalmente, descobrimos os véus (mayas) que envolvem nossa consciência para sentir um fluxo mais intenso, alegre, equilibrado, amoroso e compassivo em diferentes níveis de nossa existência como seres humanos.
Através do toque consciente transformamos nossa percepção a respeito do nós mesmos e dos outros, nossa relação com a vida ao nosso redor, desde nossa realidade mais densa e material, física (que inclui a dor ou sofrimento para crescer), até uma visão mais ampla e aberta, plena de realização e felicidade, saúde e paz. Nos sentimos conectados, integrados, por dentro e por fora, não por causa de uma nova tecnologia mais eficiente, hardware ou software de última geração! Mas pela nossa própria natureza e essência, pois somos energia e consciência experienciando a forma humana. E é o prana que permitimos que flua através de nós que vai definir quem somos e o que estamos representando na vida.
Para mim, a Massagem Tradicional Thai é, na sua essência, o fruto de uma nova visão do que é o Yoga, sob uma perspectiva só deles – o povo Thai (livre)! – traduzindo em sua própria linguagem corporal, Yoga como a Flor de Lotus, beleza singular que brota nos pântanos e exala o perfume da alma.
Namastê!